terça-feira, 17 de maio de 2011

Filho pródigo

Era uma vez o melhor dos sonhos. Era o melhor porque além de perfeito, parecia tão real que ninguém diria que era sonho. Nasceu numa quinta-feira encantada, todos os sonhos nascem em algum momento encantado, mas só o melhor deles nasce numa quinta feira. Tê-lo em minha manjedoura era o maior dos privilégios. Tornei-me devoto dele. Bem nutrido, o melhor dos sonhos cresceu com vitalidade, ficaram no seu rosto, é claro, algumas cicatrizes da infância. Assumi minhas responsabilidades e me penitenciei pelos equívocos na criação.
O melhor dos sonhos, na meninice, continuou inquieto e inquietante, ganhou, por isso, novas cicatrizes. Eu seguia orgulhoso, responsável e penitente.
Na adolescência, o melhor dos sonhos se expandiu, ganhou o mundo e adiquiriu postura. Perdi qualquer controle sobre ele, aliás, deixei que me ensinasse, me ensinou. Foram dias incríveis!
Ele já era adulto quando me convenceu de que minha vida estava errada e de que era a hora de seguir o caminho que ele me mostrava. Embora já seguisse, entendi, e arrisquei mais; ele estava certo! Era mesmo o melhor dos caminhos e vi, finalmente, a lindeza da vida pelo seu prisma. Já não sabia mais o que via se ele não me dissesse.
Um dia, faz pouco, o melhor dos sonhos simplesmente foi embora. Não deixou nem mesmo uma carta ou mensagem, simplesmente foi. Deixou-se diluir no universo.
Talvez volte, talvez não. Talvez volte irreconhecível, talvez não. Mas fico tentando ver na cara de cada sonho que passa se ele não é o melhor deles. Vejo que não. E não paro de me perguntar: "onde foi que eu errei com esse menino?".
Desnecessário dizer que, ao filho pródigo, a casa estará sempre aberta.

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