terça-feira, 17 de maio de 2011

Filho pródigo

Era uma vez o melhor dos sonhos. Era o melhor porque além de perfeito, parecia tão real que ninguém diria que era sonho. Nasceu numa quinta-feira encantada, todos os sonhos nascem em algum momento encantado, mas só o melhor deles nasce numa quinta feira. Tê-lo em minha manjedoura era o maior dos privilégios. Tornei-me devoto dele. Bem nutrido, o melhor dos sonhos cresceu com vitalidade, ficaram no seu rosto, é claro, algumas cicatrizes da infância. Assumi minhas responsabilidades e me penitenciei pelos equívocos na criação.
O melhor dos sonhos, na meninice, continuou inquieto e inquietante, ganhou, por isso, novas cicatrizes. Eu seguia orgulhoso, responsável e penitente.
Na adolescência, o melhor dos sonhos se expandiu, ganhou o mundo e adiquiriu postura. Perdi qualquer controle sobre ele, aliás, deixei que me ensinasse, me ensinou. Foram dias incríveis!
Ele já era adulto quando me convenceu de que minha vida estava errada e de que era a hora de seguir o caminho que ele me mostrava. Embora já seguisse, entendi, e arrisquei mais; ele estava certo! Era mesmo o melhor dos caminhos e vi, finalmente, a lindeza da vida pelo seu prisma. Já não sabia mais o que via se ele não me dissesse.
Um dia, faz pouco, o melhor dos sonhos simplesmente foi embora. Não deixou nem mesmo uma carta ou mensagem, simplesmente foi. Deixou-se diluir no universo.
Talvez volte, talvez não. Talvez volte irreconhecível, talvez não. Mas fico tentando ver na cara de cada sonho que passa se ele não é o melhor deles. Vejo que não. E não paro de me perguntar: "onde foi que eu errei com esse menino?".
Desnecessário dizer que, ao filho pródigo, a casa estará sempre aberta.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Osbama: now, we really can


Preciso dizer aqui algumas coisas que tenho dito por aí sobre o fim do duelo entre Osama e Obama.
1. Morreu mesmo o primeiro. Não tenho dúvidas, mesmo que o corpo não bóie. Parto do princípio que se o presidente dos EUA falou de madrugada que morreu, então morreu. Não que seja devoto, longe disso, simplesmente sei, mais ou menos, o que está em jogo. Americanos toleram, às vezes gostam, de presidentes canalhas, mas não suportam canalhas mentirosos. É assim desde George e nem Bush saiu impune. Disse que havia armas de destruição em massa e invadiu. Não havia, mentiu. Renovou com isso o espírito democrático do povo que, sim, podia e Obama se elegeu, não pode mentir.
2. Não capituraram e julguram, porque não. A encarnação do mal não precisa de julgamento. Tem que ser muito politicamente correto para sair em defesa de tratamento humanitário ao Diabo. Claro que não creio em diabos (seria muito desvantajoso para quem não sabe crer em deuses), mas Osama caprichou em suas maldades. Além disso, quando já era mau, foi amigo de seus atuais inimigos. Ninguém gostaria de ouvir o que ex-amigos, agora inimigos, tem a dizer a nosso respeito.
3. Tem coisas que até podem ser explicadas pelo seu conteúdo, mas não pela sua forma. Tenho ideia do que soldados de qualquer época podem fazer quando capituram um inimigo, ou para capiturar um. Mostrar isso pode obscurecer o brilho da façanha e não o contrário. Melhor deixar a coisa por conta da imaginação da mídia e só alimentar com alguns detalhes que não permitem desvendar o enrredo. A mídia agradece e a informação perde, como quase sempre, para o entretenimento.
Isso é só mais uma hipótese para a falta de transparência.
4. Não acredito em nova onda de terrorismo. Talvez um ou outro homem bomba. Obama sabe: com uma década de pesados investimentos militares em tecnologia de combate ao terrorismo; com o retrocesso dos direitos civis pelo mundo (ligações gravadas e correspondências violadas); com quase todos os países que poderiam servir de QG para o terrorismo de grande escala dominados; com o desprestígio atual da Alcaeda, que chegou a ser festejada por intelectuais e gente boa equivocados; o mundo está mais blindado ao terrorismo do que estava no 11 de Setembro.
5. Ao chamar para sí a responsabilidade pela morte de Osama, Obama quis marcar seu protagonismo no fim e não no começo de uma temporada de terrorismo. Caso contrário seria cabo eleitoral de um republicano no ano que vem. Ninguém se convenceria de que o bom Obama pode ser mais durão do que um texas ranger.
6. Com isso está posto o argumento da campanha democrata: now, we really can. "Se não cumpri ainda com as expectativas do povo americano, é porque tínhamos a 'herança maldita' do terrorismo para adiministrar. Agora que matei a praga, posso trabalhar sabendo que minha gente está segura".